Estive na Pulse Fair, que aconteceu no Metropolitan Pavillion (125 W 18th St), na semana passada e trago aqui uma seleção de obras que chamaram minha atenção. Algumas pela beleza, outras pelo conteúdo/conceito, outras apenas por serem interessantes.
A Pulse é uma feira, exclusivamente de arte contemporânea, ‘paralela’ à Frieze que toma conta da Randall Island no mesmo período. A Frieze conta também com uma edição em Londres em setembro, enquanto a Pulse tem uma versão em Miami em dezembro.
Neste artigo:
- Arte em latas amassadas de Kim Alsbrook
- Maços de cigarro transformados em arte por John Slaby
- A performance datilografada de Tim Youd
- Um recado no espelho de Adam Parker Smith
“My White Trash Family”, de Kim Alsbrook, é interessante por colocar em outro contexto um objeto descartado, uma lata amassada de bebida, aplicando um retrato, como que histórico, mas numa textura limpa e lisa, em contraste com o amassado da lata. As três peças expostas estavam colocadas lado a lado em uma moldura tipo caixa, atribuindo novamente o significado de peça de arte. A série completa dele tem 12 diferentes peças.
O trabalho de Alsbrook estava sendo mostrado pela galeria “The West Collection“, da Pensilvânia, juntamente com outros artistas, entre eles John Slaby que traz o artesanato manual e o deslocamento, ao recriar caixas de cigarro em pequenas peças de maneira cuidadosamente pintadas à mão. O meticuloso trabalho de pintura meio que justifica o status de arte do trabalho, que poderia passar como apenas mais um revival da Pop Arte.
Um trabalho muito interessante, principalmente pelo processo – aliás, dá pra dizer que o trabalho é o processo – é o Black Spring (Henry Miller) de Tim Youd. Desde que entrei na feira passei a ouvir o ruído de uma máquina de escrever sendo usada… incessantemente. Tim datilografa em uma máquina Underwood Standard, a mesma usada pelos autores de livros famosos, como este do Henry Miller, o livro todo em uma única folha. Na verdade duas delas, uma sobre a outra, uma recebendo a tinta e a de baixo somente o relevo das letras – e aquilo que escapa quando a folha da frente começa a se desintegrar. Na feira ele estava digitando por 45 minutos a cada hora, período durante o qual ele simplesmente ignorava os presentes, parando 15 minutos para falar sobre o trabalho. O resultado é uma folha, ilegível, que de certa maneira “contém o livro”. É uma mistura de performance – quando o processo de datilografia é mostrado – com pintura e literatura. Pura arte conceitual!
Pesquisando para este post descobri que Youd, que é baseado em Los Angeles, tem seu trabalho todo em torno da escrita. Vale a pena dar uma fuçada no site dele, que infelizmente não mostra nada deste trabalho com a máquina de escrever, que achei algo a respeito somente neste outro site.
O trabalho que achei mais bonitinho foi o recado deixado por Adam Parker Smith no espelho embaçado. Além do fato de ser algo muito íntimo – você só vê o espelho embaçado depois que alguém toma banho, e tem que ser íntimo pra entrar no banheiro logo na sequência, né – é um recado alegre: “It’s a girl” (É uma menina). Fora o fato de ser a recriação artesanal de algo banal – novamente o deslocamento (e viva os Ready mades de Duchamp!).
É bem interessante ver nos trabalhos, em geral, referências muito clara à obras-primas e mestres da arte recente – moderna, arte pop e pós-moderna. Não vi nada de web-arte (o que considero que seja realmente a mais contemporânea das artes), mas vi algumas peças usando projetores, monitores etc. Bastante pintura, escultura e fotografia, isso sim!
Nos próximos posts vou trazer mais obras belas e interessantes.
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